terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre Tempo e Jabuticaba

Sobre tempo e jabuticaba

(Autor desconhecido)



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para

frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas..

As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalômanos.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis para discutir assuntos

inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da

idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor

absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena !



Basta o essencial !

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Fernando Pessoa

"Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faca
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraca,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma."

Sobre Afeto e Presença - Nilton Bonder

"Uma história hassídica oferece a medida exata do que é afeto. Após mostrar sua casa a um visitante, este pergunta ao mestre: 'Muito bonita, mas há algo que não entendo: as cortinas na janela. Se você quer que as pessoas olhem para dentro, por que cortinas? E se você não quer que elas olhem, por que janela?'
O mestre respondeu: 'Porque um dia alguém que me ame e que eu ame também vai passar por aqui e juntos vamos remover a cortina.'
O afeto é o que permite que estejamos juntos, mas, ao mesmo tempo, que não nos misturemos. Essa interconexão, ao invés da mistura é o que produz presença. Ou seja, é uma medida, um equilíbrio, entre estar-se separado e junto.

Deus é essa Presença absoluta que não está em lugar algum e que inexiste em nosso tempo e espaço. É a certeza de que a todo momento 'alguém que nos ama e que nós amamos também' vai passar e queremos estar despertos para esta ocasião. Portanto, reconhecer o ocultamento de Deus é uma maneira íntegra de se retratar a realidade. Por outro lado, negar sua presença demonstra insensibilidade ou ilusão quanto ao grande afeto que reside na rede da realidade. Há algo que nos ama e que amamos, o suficiente para querermos ter uma janela, mesmo que nossa preservação exija uma cortina"

Two Wolves


Two Wolves - A Cherokee Tale

A Cherokee is telling his grandson about a fight
that is going on inside himself.
He said it is between 2 wolves.

One is evil: Anger, envy, sorrow, regret,
fearful thinking, greed, arrogance, self-pity,
guilt, resentment, inferiority, lies,
false pride, superiority and ego.

The other is good: Joy, peace, love, hope, serenity,
humility, kindness, benevolence, empathy, generosity,
truth, compassion and faith.

The grandson thought about it for a minute
and then asked his grandfather, "Which wolf wins?"

The Cherokee simply replied, "The one I feed."

~ Author Unknown ~

Fronteiras da Inteligência (Nilton Bonder)

"Conta-se que certa vez um rabino admirava um equilibrista circense. O rabino perguntou aos discípulos: 'Vocês sabem como ele consegue?'

Regra número um: em nenhum momento desviar sua atenção para o chapéu no qual lhe depositam dinheiro em reconhecimento. Se perder a concentração, no que está fazendo, cai imediatamente.

Regra número dois: não prestar atenção no próximo passo, mas mirar em direção ao mastro no final da corda. O objetivo é que permite o equilíbrio e oferece estabilidade para o próximo passo. Mas qual é o momento mais difícil e mais importante de sua tarefa?

Os discípulos se entreolharam confusos.

Ele respondeu: 'É o momento em que chega ao final da corda e tem que dar meia-volta. Nesse momento, ele fica sem o mastro como referência. Aí, ele depende de um centro que ficou interiorizado nele.'

Nesse quase 'manual' de procedimentos, vemos lições importantes. Não buscar apenas a recompensa imediata, pois desequilibra. Não deixar de ter um objetivo para mirar, sob o risco de perder o equilíbrio. Porém, mais importante que qualquer coisa é adquirir a possibilidade da confiança, de internalizar a referência externa, para perseverar quando ela não estiver disponível"
De "Fronteiras da Inteligência", Nilton Bonder:

"Quem é inteligente? Os sábios fazem essa pergunta e respondem: 'Aquele que aprende de todo o ser humano'. A sabedoria não é um saber, mas a habilidade de aprender.

O prêmio Nobel de química, Karl Ziegler, quando perguntado porque teria se destacado tanto em sua área de estudos, atribuiu esse feito à sua mãe. Ele contou que, quando ela o buscava na escola, não fazia a pergunta que invariavelmente os pais faziam aos filhos: 'O que você aprendeu hoje no colégio?' Ela dizia: 'O que você perguntou hoje no colégio?' O interesse pela inquietude e pela dúvida faz a diferença porque prepara um indivíduo para 'aprender de todo o ser humano e de toda a oportunidade de vida'. É essa aptidão que o Talmude qualifica de 'inteligência'.

A única forma que se tem de chegar à certeza é pela dúvida. E mesmo assim essa certeza deve estar eternamente aberta à dúvida".

Senso de Recurso

"Abordamos a noção de que quanto mais 'servimos' ou 'amamos', ou na medida em que menos somos 'servidos' ou menos dependemos de 'ser amados', maior a inteligência espiritual. Quanto maior nossa independência para podermos apreciar a vida sem expectativas de provas de amor dos outros ou sem colecionarmos dossiês sobre como os outros são injustos ou como é neles que se encontram as origens de nossas mazelas, maior a inteligência.

Por difícil e paradoxal que possa parecer, servir não é um ato de submissão ou subordinação. É ao contrário a maior independência que se pode alcançar. Enquanto quem busca ser amado está sempre atrelado e dependente do outro, quem ama é um ser livre e independente.

Qualquer coisa que nos aconteça possui recursos. Quando as coisas não forem do jeito que a gente quer, seja lá o que vier, sempre teremos recursos para lidar com a vida. Essa é a sua própria definição e o que torna a vida tão fascinante e adorada.

Viver é estar imerso em recurso.

Abençoar é acima de tudo dar atenção. Qualquer um que possa prestar muita atenção nos outros pode abençoar, e qualquer um que possa prestar radicalmente atenção em si irá perceber-se abençoado.

A bênção é o estado de estar-se plenamente no lugar e no momento. A bênção é um brinde à vida, um reconhecimento daquilo que cada momento propicia.

A verdadeira saída não está na luz no final do túnel, que é nossa expectativa natural. Está em qualquer lugar do túnel. É a segurança conquistada por quem pauta sua vida pela noção de 'se não agora, quando?'

Quem age assim descobre que cada momento é um fim em si. E aí pouco importa para onde se vai. Basta fazer do mesmo algo diferente, e se está em qualquer lugar, se sai de qualquer lugar."

(Nilton Bonder, Fronteiras da Inteligência)

Shalem = completo, inteiro; shalom = paz

"E trouxe Caim, do fruto da terra, uma oferta ao Eterno. E Abel trouxe também ele, das ovelhas, uma oferta. E voltou-se Deus para a oferta de Abel e para a oferta de Caim não se voltou" (Gen. 4:3-5.

"A tradição chassídica interpreta este versículo enfatizando que aquilo que Abel trouxe em sacrifício foi o "ele". Ele trouxe a si mesmo. Apenas quando uma pessoa traz a si mesma é que seu sacrifício é aceito.

Caim inveja Abel porque ele se traz inteiro. Todo o conteúdo de sua psique e de seu self se fazem presentes nas situações de vida. Deus aceita sua oferenda de vida porque ela é inteira."

"Certa vez, na Bahia, uma das sociedades menos críticas e rígidas do planeta (com um pé no Paraíso), me peguei surpreso com a diversidade de quinquilharias de uma loja e comentei com a vendedora: 'Aqui na Bahia tudo dá!'

Ela então respondeu sensualmente: 'Na Bahia tudo dá e deixa!'

Dar é a aceitação de nossa 'nudez'; deixar é a aceitação de nossa vulnerabilidade."

(Nilton Bonder, Código Penal Celeste).

- Dar é a coragem de ser inteiro em cada momento, de estar presente em cada circunstância e encontro da vida.

- Deixar é abrir mão do controle.
Deixar é permitir à vida fazer o seu curso.

"Antes da iluminação, corte madeira e carregue água.
Após a iluminação, corte madeira e carregue água". (Provérbio zen)

O segredo da vida (os olhos da alma) é descobrir que o bom é cortar madeira e carregar água.

A iluminação é linda, mas não se pode viver em busca dela. O importante é saber ser feliz com o que se faz cada dia (o trabalho de cada dia, por menor que seja). Porque a iluminação é solitária, individual. Mas transforma-se o mundo, aperfeiçoa-se o mundo, cortando madeira e carregando água...